sábado, 30 de abril de 2016

ANA JÁCOMO


ABRIL, 30 de 2016


É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto,e o chope é gelado. É
fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no
calendário do de vez em quando. Difícil é amar  quando o outro desaba. Quando não acredita em
mais nada. E entende tudo  errado. E paralisa. E se vitimiza. e perde o charme. O prazo. A
identidade.  A coerência. O rebolado. Difícil amar...quando o outro fica cada vez mais diferente do
que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele
esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as
cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda,
verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez,
do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro. Difícil é amar quem não está
se amando. Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu
não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais
desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na
vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e , especialmente, no amor que
recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente.


Ana Jácomo


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