Mãe é bom em qualquer idade.
Sem ela, ficamos órfãos de tudo, já que o mundo lá fora não é nem um pouco
maternal conosco. O mundo nos olha superficialmente. Não consegue enxergar
através. Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso abatimento.
O mundo quer que sejamos lindos, sarados e vitoriosos para enfeitar ele
próprio, como se fôssemos objetos de decoração do planeta. O mundo não tira
nossa febre, não penteia nosso cabelo, não oferece um pedaço de bolo feito em
casa. Para o mundo, quem menos corre, voa. Quem não se comunica se estrumbica.
Quem com ferro fere, com ferro será ferido. O mundo não quer saber de
indivíduos, e sim de slogans e estatísticas. Mãe é de outro mundo. É
emocionalmente incorreta: exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente,
dramática, chega a ser até corruptível se oferecermos em troca alguma atenção.
Sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as
nossas vontades, enquanto que o mundo propriamente dito exige eficiência
máxima, seleciona os mais bem-dotados e cobra caro pelo seu tempo.
Martha Medeiros