AGOSTO, 11 de 2015
Cada um deve
ser e proporcionar a si mesmo o melhor e o máximo. Quanto mais for assim e, por
conseguinte, mais encontrar em si mesmo as fontes dos seus deleites, tanto mais
será feliz. Com o maior dos acertos, diz Aristóteles: A felicidade
pertence aos que se bastam a si próprios. Pois todas as fontes externas de
felicidade e deleite são, segundo a sua natureza, extremamente inseguras,
precárias, passageiras e submetidas ao acaso; podem, portanto, estancar com
facilidade, mesmo sob as mais favoráveis circunstâncias; isso é inevitável,
visto que não podem estar sempre à mão.
Na velhice,
então, quase todos se esgotam necessariamente, pois abandonam-nos o amor, o
gracejo, o prazer das viagens, o prazer da equitação e a propensão para a
sociedade. Até os amigos e parentes nos são levados pela morte. É quando, mais
do que nunca, importa saber o que alguém tem em si mesmo. Pois isso se
conservará por mais tempo. Mas também em cada idade isso é e permanece a única
fonte genuína e duradoura da felicidade. Em qualquer parte do mundo, não há
muito a buscar: a miséria e a dor preenchem-no, e aqueles que lhes escaparam
são espreitados em todos os cantos pelo tédio. Além do mais, via de regra,
impera no mundo a malvadez, e a insensatez fala mais alto. O destino é cruel e
os homens são deploráveis. Num mundo com tal índole, aquele que tem muito em si
mesmo assemelha-se ao iluminado recanto de Natal, aquecido e aprazível no meio
da neve e do gelo da noite de dezembro. Por conseguinte, ter uma individualidade
meritória e rica e, em especial, muita inteligência, é sem dúvida a sorte mais
feliz sobre a terra, por mais diversa que possa ser da sorte mais
brilhante.
Arthur
Schopenhaue
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